quarta-feira, 27 de setembro de 2017

PERFEIÇÃO



PERFEIÇÃO – A palavra “perfeito” significa o que está totalmente desenvolvido e completo. Ela é aplicada aos Cristãos de três maneiras:
  • Quanto à nossa presente posição diante de Deus.
  • Quanto ao nosso estado prático.
  • Quanto à nossa condição final.

1) Perfeito em posição

No momento em que alguém crê no evangelho de sua salvação, ele é selado com o Espírito Santo (Ef 1:13) e tem uma posição diante de Deus “em Cristo” que é perfeita. Essa posição não será ainda mais perfeita quando da sua entrada no céu. Ele é “aceito” diante de Deus como Cristo é, pois está no lugar de Cristo perante Deus (Ef 1:6). Isso tornou-se possível pela oferta única de Cristo. A Escritura diz: “Com uma só oblação (oferta), aperfeiçoou para sempre [em perpetuidade – JND] os que são santificados” (Hb 10:14). Essa perfeição envolve a “purificação” da consciência pela qual o crente sabe que seus pecados foram tratados com justiça e se foram para sempre (Hb 9:14). É algo que as ofertas no judaísmo não poderiam fazer (Hb 9:9, 10:1), mas essas ofertas apontaram para a única oferta de Cristo que resolveu a questão do pecado diante de Deus para sempre (Hb 10:1-18). Conhecer isso torna o crente um adorador na presença imediata de Deus (Hb 10:19-22).

2) Perfeito em estado

A Escritura também fala do fato de o crente ter sido feito “perfeito” quanto ao seu estado prático. A perfeição nesse sentido tem a ver com a maturidade Cristã – ou seja, um crente atingindo o crescimento completo. O grande fardo do apóstolo Paulo no ministério era apresentar os santos “perfeitos em Cristo Jesus”. Ele diligentemente se esforçou em “ensinar” e em orar para esse fim (Cl 1:28-2:1; 1 Ts 3:10; 2 Co 13:9, 11). Epafras também é mencionado como orando pelos santos para que eles fossem “perfeitos” dessa maneira (Cl 4:12).
Há uma série de áreas onde os Cristãos precisam estar “perfeitos” nesse sentido (2 Pe 3:18):

a) Aperfeiçoando o foco de nosso coração (Fp 3:13-15)

Em Filipenses 3, vemos a vida de Paulo focada em “uma coisa” – Cristo e Seus interesses. Ele prosseguiu “para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação” (o “alvo” no caminho de fé é alcançar a Cristo no alto, o “prêmio” no final do caminho é estar com Ele e ser como Ele em glória). Todas as energias de Paulo foram canalizadas para aquela busca que o absorveu totalmente. Cristo tinha capturado seu coração, e tudo o que ele queria era mais d’Ele. Assim, todos os outros interesses, ambições e buscas na vida foram considerados estranhos e foram deixados de lado (Fp 3:4-8). Ele disse que tantos quantos tivessem “esse sentimento” seriam “perfeitos”. Assim, um Cristão completamente maduro, no que diz respeito ao seu foco, é aquele que persegue uma coisa em sua vida – Cristo na glória e os Seus interesses na Terra.
Aperfeiçoar o foco de nosso coração é uma das primeiras coisas que Deus trabalha em nós depois de nos tornarmos Cristãos. Tem muito a ver com nossas prioridades. Antes que uma pessoa se salve, geralmente ela está absorvida em algum aspecto do mundo e na busca de certos objetivos terrestres. Mas quando ela se converte a Cristo e deixa as ambições e os objetivos terrenos que uma vez capturaram sua atenção, ela alcança a perfeição Cristã nesse sentido. Uma consequência de ter nosso coração focado nessa “uma coisa” é que nos tornamos Cristãos devotos. Zelo e energia nas coisas de Deus são o que caracterizará nossa vida. Com Paulo, isso foi uma coisa imediata em sua vida (At 9). No entanto, com a maioria dos crentes, é um processo, e é triste dizer, muitos nunca alcançam esse nível de maturidade Cristã. Paulo bem entendeu que o desenvolvimento espiritual é uma coisa progressiva e afirmou que aqueles que estavam sentindo “alguma coisa doutra maneira” (aqueles que não estavam tão focados como ele estava), Deus lhes revelaria que buscar a Cristo seria a realmente a única busca que valeria a pena ter na vida (Fp 3:15). Paulo estava confiante de que, à medida que avançassem na vida Cristã e crescessem em graça, teriam menos interesses estranhos, e Cristo Se tornaria o único objetivo.

b) Aperfeiçoando o nosso entendimento da revelação divina

Paulo disse aos coríntios: “Adultos [perfeitos] no entendimento” (1 Co 14:20). Perfeição nesse sentido, tem a ver com o nosso entendimento da revelação da verdade Cristã. Isso mostra que Deus não quer que sejamos Cristãos devotos apenas, mas quer que também sejamos Cristãos inteligentes. Para esse fim, nos trouxe para o lugar favorecido de “filiação” (Ef 1:5) e “Ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudência [inteligência – JND], descobrindo-nos o mistério da Sua vontade” (Ef 1:8-9). Isso nos foi revelado nas Escrituras do Novo Testamento – particularmente em Efésios e Colossenses. Se absorvermos a verdade por meio de um estudo diligente (1 Tm 4:6; 2 Tm 2:15), obteremos um conhecimento prático da verdade, e assim nos tornaremos “perfeitos [adultos – JND] nesse sentido (Hb 5:14). Como tal, seremos homens de Deus que podem ser usados por Deus na obra do Senhor (2 Tm 3:16-17). Poderemos nos levantar para a defesa da fé e, de forma inteligente, “responder com mansidão e temor a qualquer” que nos pedir a “razão da esperança” que temos em Cristo (1 Pe 3:15, Jd 3).
O escritor da epístola aos hebreus exortou os santos nesse sentido dizendo: “prossigamos até a perfeição [para aquilo que é próprio do adulto – JND] (Hb 6:1). Para fazer isso, ele lhes disse que não deveriam voltar para a posição judaica do Velho Testamento de onde vieram, mas “prosseguir” desde os princípios do reino os quais o Senhor ensinou nos evangelhos sinópticos – que ele chama “a doutrina dos princípios elementares de Cristo” (TB) – até ao “completo crescimento” (JND) no Cristianismo, que é a verdade apresentada nas Epístolas. Esses crentes hebreus estavam, por assim dizer, em uma ponte que se estendeu do judaísmo ao Cristianismo. Ele exortou-os a que não voltassem atrás na ponte, para o terreno do Velho Testamento (o sistema legal do judaísmo) de onde eles vieram, mas também não permanecessem na ponte abraçando apenas a verdade que havia sido manifestada pelo ministério do Senhor (Jo 14:25 – estas coisas” – TB). Ele queria que eles continuassem até o pleno Cristianismo, que ele chama de “perfeição”. Essa é a verdade encontrada nas Epístolas (Jo 14:26 – todas as coisas”). Se eles ficassem onde estavam na ponte, por assim dizer, em algum lugar entre o judaísmo e o Cristianismo, isso impediria seu crescimento espiritual e eles permaneceriam como bebês (Hb 5:11-13).
A necessidade desse trabalho de “aperfeiçoamento dos santos” neste sentido é grande, porque até que sejam estabelecidos na verdade, eles estarão em perigo de serem “levados em roda por todo o vento de doutrina” (Ef. 4:12-14). Na verdade, é a própria razão pela qual Cristo deu “dons” de edificação à Igreja – pastores, mestres, profetas etc. (Ef 4:11). Se aproveitarmos o seu ministério, iremos “prosseguir até a perfeição” em nosso entendimento da revelação Cristã. Mesmo que possamos não ser dotados no ensino, ainda assim podemos ajudar os outros a entender “com mais precisão o caminho de Deus” (TB). Isso é o que Áquila e Priscila fizeram por Apolo (At 18:24-28).

c) Aperfeiçoando a santidade em nosso andar (2 Co 6:14-7:1)

Deus não quer que sejamos apenas devotos e inteligentes, mas também santos (na prática). Assim, a perfeição também é usada na Escritura em conexão com o andar em santidade do crente. Em 2 Coríntios 6:14-7:1, o apóstolo Paulo indicou que aperfeiçoar a santidade em nossa vida tem duas partes: há o lado exterior envolvendo separação de coisas externas e pessoas do mundo (2 Co 6:14-18) E, também, há o lado interior de nos livrarmos de hábitos e caminhos impuros pelo julgamento de nós mesmos na presença do Senhor (2 Co 7:1). Ter o exterior sem o interior é hipocrisia (Sl 51:6).
A roupa do sacerdote do Velho Testamento, que era feita de linho, ilustra (figurativamente) o equilíbrio adequado dos dois lados (Êx 28:39-43). “Linho” fala de justiça e pureza práticas. Os sacerdotes usavam “túnicas de linho” (roupa externa), que falam de pureza exterior diante dos olhos dos homens, mas usavam “calções de linho” sob suas túnicas as quais ninguém via, senão Deus. Isso nos fala da pureza interior. A perfeita santidade em nosso caminho e maneiras nos faz Cristãos santificados.

d) Aperfeiçoando o amor de Deus em nosso coração (1 Jo 2:5, 4:11-12)

Uma parte importante para se atingir a maturidade Cristã tem a ver com o amor de Deus sendo aperfeiçoado em nós, de modo que amamos como Deus ama. Isso é visto em perfeição na vida do Senhor Jesus. Ele demonstrou perfeitamente o amor de Deus. Aqueles que têm o amor de Deus neles aperfeiçoado amarão como Cristo amou. Isso se manifestará, na prática, de várias maneiras. Será visto na obediência genuína à Palavra de Deus: “qualquer que guarda a Sua Palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado” (1 Jo 2:5). Será visto em nosso amor uns pelos outros: “se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o Seu amor é, em nós, aperfeiçoado” (1 Jo 4:12 – ARA). Será visto em nossa vontade de caminhar juntos em unidade: “para que eles sejam perfeitos em unidade” (Jo 17:21-23). Será visto no controle da nossa língua: “se alguém não tropeça em sua palavra, é um homem perfeito” (Tg 3:2 – TB). Será visto em nossa benevolência para com os pobres e necessitados: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres” (Mt 19:21; 1 Jo 3:17). Muitas vezes, Deus usará provações para desenvolver essas coisas em nós (Tg 1:4).

e) Aperfeiçoando nossa maneira de servir

Nosso serviço para o Senhor é amplo e variado, mas todos temos algo a fazer por Ele, pois não há zangões na colmeia de Deus. Ao caminhar com o Senhor e crescer, nosso serviço para Ele deve se desenvolver proporcionalmente. Quanto mais amadurecemos nas coisas de Deus, mais nossa eficiência no serviço do Senhor aumentará – produzindo “um a trinta, outro a sessenta, outro a cem” (Mc 4:20). O escritor de Hebreus orou pelos santos para esse fim (Hb 13:20-21).

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Um perfil bíblico de um Cristão maduro (perfeito) é o seguinte:
  • Ele tem um único interesse na vida – Cristo (Fp 3:13-15).
  • Ele come carne e não apenas leite (Hb 5:11-12).
  • Ele caminha em separação do mundo (2 Co 6:14-17).
  • Ele julga a si mesmo (2 Co 7:1).
  • Ele deixou o judaísmo e todos os seus princípios (Hb 6:1-4).
  • Ele é governado por genuína obediência (1 Jo 2:5).
  • Ele tem um profundo amor pelos outros (1 Jo 4:11-12).
  • Ele está menos ansioso na provação (Tg 1:2-4).
  • Ele controla sua língua (Tg 3:2).
  • Ele é generoso com suas posses (Mt 19:21).
  • Ele mantém sintonia com seus irmãos (Jo 17:21-23).
  • Seu serviço é de acordo com a mente de Deus (Hb 13:21).

2) Perfeito na condição final

O aperfeiçoamento da consciência do crente é o início da obra de Deus de aperfeiçoar os santos. A conclusão da obra tem a ver com a glorificação do corpo dos santos (Rm 8:17, 30; Fp 3:12; Hb 11:40, 12:23). Isso inclui a erradicação da natureza caída do pecado – a carne (1 Jo 3:2). O Senhor experimentou o ser feito “perfeito” em Seu corpo quando ressuscitou dentre os mortos (Lc 13:32; Hb 5:9). No entanto, Ele não precisava erradicar a natureza caída do pecado porque não tinha uma natureza caída.
Em Hebreus 11 o escritor menciona muitos santos do Velho Testamento que há muito haviam saído desta cena e estão agora com o Senhor. Ele conclui dizendo: “Para que eles (os santos do Velho Testamento) sem nós (os santos do Novo Testamento) não fossem aperfeiçoados”. Assim, a obra do Senhor de aperfeiçoar os santos de todas as épocas anteriores (assim como os Cristãos) nesta última forma acontecerá ao mesmo tempo. Sabemos que isso acontecerá na vinda do Senhor – o Arrebatamento (1 Ts 4:15-18). Naquele momento, o “corruptível” se revestirá de “incorruptibilidade”. Isso se refere aos santos que adormeceram. Eles serão ressuscitados em um estado glorificado. Além disso, naquele mesmo momento, o “mortal” se revestirá de “imortalidade”. Isto se refere aos santos vivos sendo transformados em um estado glorificado (1 Co 15:51-57).
Por isso, todo crente experimentará duas vivificações: a primeira é a vivificação de sua alma e espírito quando ele é trazido da morte para a vida pelo poder de Deus (Ef 2:5; Cl 2:13), e a segunda é a vivificação em seu corpo, que ainda vai ocorrer na vinda do Senhor (Rm 8:11).

terça-feira, 26 de setembro de 2017

PAZ



PAZ – Há pelo menos sete aspectos da paz na Escritura – alguns relacionados à posição do crente diante de Deus, alguns relativos ao estado do crente e apenas um em relação ao futuro estado do mundo sob o reinado público de Cristo. Alguns desses aspectos são posicionais, outros são práticos e o último é profético (ainda por ser cumprido).

1) Paz em conexão com a posição do crente

A. P. Cecil indicou que há três partes para a posição em paz do crente, e que nos pertencem desde o momento em que cremos no evangelho e fomos selados com o Espírito Santo. Elas são:

a) Paz com Deus (Rm 5:1)

Esta é uma “paz” exterior que existe entre Deus e o crente como resultado de ser “justificado pela fé”. É uma condição exterior que prevalece entre duas partes que antes estavam separadas. Da mesma forma, quando duas nações estão em guerra, não há paz. Mas se a paz for estabelecida entre elas, a guerra acaba, cessam as hostilidades e os inimigos são transformados em amigos. Isso foi exatamente o que aconteceu com o crente por fé na morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Não existe mais uma separação entre nós e Deus; prevalece agora uma condição de “paz com Deus”.
Algumas pessoas pensam que o pecador precisa fazer a paz com Deus. Eles dirão: “Faça a sua paz com Deus”. No entanto, não podemos fazer paz com Deus porque não somos capazes de atender às reivindicações da justiça divina necessária para a paz. Graças a Deus, Ele interveio para assegurá-la ao crente. A Bíblia ensina que esta paz foi feita para os homens pela obra de Cristo na cruz (Cl 1:20). Assim, tudo o que temos a fazer é crer no testemunho de Deus sobre esse fato, e “sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo”.
Esse aspecto da paz é uma realidade objetiva e não um sentimento subjetivo ou um estado de espírito. Assim, não é um sentimento de paz interior na alma do crente, como algumas pessoas pensam. Os sentimentos de paz podem vir e ir, dependendo das circunstâncias e do estado de alma de uma pessoa, mas não fazem parte da justificação do crente e de sua “paz com Deus”. A paz com Deus é uma condição permanente na qual o crente habita com Deus. É tão segura e inabalável como seu fundamento: a morte e a ressurreição de Cristo. Romanos 5:1 não está falando do gozo de nossa paz com Deus, mas sim do fato de que temos paz com Deus. Essa paz não depende do nosso estado de alma, nem pode ser perdida pelas fraquezas do nosso caráter ou falhas no caminho da fé, porque é uma coisa eternamente estabelecida e inseparavelmente ligada à nossa posição diante de Deus. Portanto, não temos mais desta paz caminhando em comunhão com o Senhor, nem temos menos dela se não caminharmos com Ele.

b) Paz da libertação (Rm 8:6)

Esse aspecto da paz é algo interior. Tem a ver com o crente ser trazido ao descanso em sua alma com relação à culpa de seus pecados. É uma paz interna na alma do crente resultante do conhecimento da sua aceitação (Rm 8:1) e da libertação (Rm 8:2-4). Assim, o crente tem um profundo senso de ter sido libertado do julgamento, e isso faz com que a paz e o descanso preencham sua alma. Esse aspecto interior da paz é muitas vezes confundido com a paz exterior com Deus, acima mencionada.
A aceitação tem a ver com o entendimento do que foi realizado na obra consumada de Cristo na cruz e do lugar que Ele tem à direita de Deus. Como consequência da Sua ressurreição e ascensão, o Senhor agora está em um lugar diante de Deus que está além da condenação. E, devido à habitação do Espírito de Deus no crente, o crente está “em Cristo” (Rm 8:1 etc.). “Em Cristo” é um termo técnico usado na doutrina de Paulo para demonstrar o crente estando “no lugar de Cristo perante Deus” (Ef 1:6). Assim, ele é tão aceito como Cristo é aceito (1 Jo 4:17). (Veja: Aceitação e Em Cristo)
A libertação tem a ver com o Espírito efetuando uma libertação do poder do pecado na alma do crente (Rm 8:2-4). Isso não significa que ele não possa mais pecar, mas que existe um poder nele que lhe permite viver sem pecar, se ele andar no Espírito. Isto é assim em virtude da “lei [o princípio] do Espírito de vida, em Cristo Jesus”, agindo no crente para superar as inclinações da carne. J. N. Darby observou que quando uma alma obtém essa paz, nunca mais entra em dúvidas a respeito de sua salvação. (Veja: Libertação)

c) Paz racial (Ef 2:14-15)

Refere-se à condição de paz existente entre os membros do corpo de Cristo, apesar de suas posições anteriores como judeus e gentios serem totalmente opostas. A grande obra de reconciliação a Deus por meio do sangue de Cristo (Ef 2:13), não somente trouxe o crente para perto de Deus, mas também a uma união com os outros membros do corpo de Cristo. Assim, as diferenças que existiram durante séculos entre judeus e gentios foram anuladas; eles estão agora juntos, unidos ao corpo de Cristo pela habitação interior do Espírito.
Como mencionado, os três aspectos de nossa posição em paz são nossos no momento em que cremos no evangelho e somos selados com o Espírito Santo.

2) Paz em conexão com o estado do crente

Quando o estado de alma do crente está correto, e ele está caminhando em comunhão com o Senhor, existem certos aspectos da paz prática que ele irá desfrutar. Tudo isso tem a ver com o estado do crente. Se, no entanto, ele negligencia andar com o Senhor, não terá os seguintes aspectos da paz:

a) A Paz de Deus (Fp 4:7)

Essa se refere ao estado de tranquilidade no qual o próprio Deus habita. Ele vê e conhece todos os conflitos e problemas que ocorrem neste mundo, mas nenhuma dessas coisas perturba a paz em que Ele habita. Não é que Ele seja indiferente a tudo isso – Ele está muito preocupado com o sofrimento, a tristeza, a violência etc., e corrigirá tudo um dia – mas isso não perturba a Sua paz. Paulo ensina em Filipenses 4 que Deus quer que vivamos na própria paz em que Ele vive, para que nossa mente e coração não sejam turbados pelas circunstâncias preocupantes pelas quais passamos neste mundo. Paulo diz que devemos trazer diante de Deus em oração tudo aquilo que nos preocupa e nos incomoda e fazer com que nossas “petições” sejam conhecidas por Ele (Fp 4:6). Ele não diz que Deus necessariamente nos dará tudo o que pedirmos, mas que Ele nos dará a paz nestas situações inquietantes da vida (Fp 4:7). Paulo continua dizendo que não só teremos “a paz de Deus” em nossa alma, mas também teremos “o Deus da paz” conosco em nossas circunstâncias (Fp 4:9). Ou seja, Ele nos concederá um senso especial de Sua presença. Compare Daniel 3:24-25. W. Scott disse: “Oh, Tê-Lo como teu Companheiro de viagem, constantemente ao teu lado; teu guia, guardião e amigo – o Deus da paz!” (Young Christian, vol. 5, pág. 128).
Nunca podemos perder a nossa “paz com Deus”, pois está inseparavelmente ligada à nossa posição diante de Deus em Cristo. Mas se não trouxermos nossas preocupações e problemas a Deus em oração, não poderemos ter a “paz de Deus” em nossa alma e nos incomodaremos com muitas coisas nas vicissitudes da vida (Lc 10:41).

b) A Paz de Cristo (Jo 14:27; Cl 3:16)

Essa se refere ao estado de paz em que o próprio Senhor viveu quando Ele andou por este mundo. Ninguém viu problemas como Ele, nem sofreu como Ele. As dores que Ele experimentou devido ao ódio e à rejeição dos homens pesavam sobre o coração de Deus. No entanto, Ele tomou tudo em perfeita calma, sem ser indiferente. Essa calma veio da aceitação dessas circunstâncias como vindas da mão de Seu Pai, em perfeita submissão (Mt 11:26). Assim, Ele viveu em paz (Mc 14:61, 15:3-5) e dormiu em paz (Mc 4:37-41), e no final da Sua senda na Terra, deu essa paz a Seus seguidores (Jo 14:27), pois eles teriam que passar pelo mesmo mundo hostil.
A diferença entre a paz de Cristo e a paz de Deus é que a paz de Deus resulta quando trazemos nossos problemas e dificuldades para Deus em oração, enquanto que a paz de Cristo resulta de tomarmos nossos problemas e dificuldades como vindos de Deus, em submissão.

c) Paz entre os irmãos (Rm 14:19; 2 Co 13:11; Ef 4:3; 1 Ts 5:13; 2 Ts 3:16; 2 Tm 2:22,  Hb 12:14; Tg 3:18; 1 Pe 3:11)

Esse aspecto da paz tem a ver com condições felizes e pacíficas existentes entre os irmãos. O salmista disse: “Eis quão bom e quão agradável é que os irmãos vivam em unidade” (Sl 133:1 – JND). Enquanto isso realmente está falando sobre as tribos de Israel habitando pacificamente, o princípio também é aplicável aos irmãos Cristãos. Satanás está fazendo tudo o que pode para perturbar a paz entre os irmãos. Os santos em cada assembleia local, portanto, devem “operar” sua “salvação” dos ataques malignos entre eles tendo a humildade de Cristo e cada um estimando o outro melhor do que a si mesmo (Fp 2:12).

3) Paz mundial (Sl 72:3, 7, 147:14; Lc 2:14)

Isso tem a ver com a paz entre as nações na Terra. É algo que os reis e os governadores e políticos têm tentado realizar a milhares de anos, mas todos falharam. A Escritura nos diz que a paz mundial será estabelecida pelos julgamentos do Senhor em Sua Aparição. Ele diz: “havendo os Teus juízos na terra, os moradores do mundo aprendem justiça” (Is 26:9). Naquele tempo, o Senhor “faz cessar as guerras até ao fim da Terra” (Sl 46:9).
Muitos Cristãos acreditam que devem fazer o que podem para trazer a paz ao mundo neste presente Dia da Graça. Eles veem isso como seu dever Cristão. Por isso, eles se envolvem na política, apoiam o porte de armas, envolvem-se em protestar contra atos injustos na sociedade etc. Esse pensamento equivocado tem suas origens na Teologia Reformada (Pacto), que ensina que o reino de Cristo será estabelecido por meio da pregação e da influência Cristã. Essas ideias têm influenciado em quase todos os setores da profissão Cristã hoje. No entanto, enquanto a Bíblia nos ensina que devemos procurar viver pacificamente entre os povos deste mundo (Rm 12:18; 1 Tm 2:1-2), ela não nos ensina a nos envolver em seus assuntos políticos, porque somos meramente peregrinos passando por ele (1 Pe 2:11). A Bíblia nos assegura que, enquanto este mundo certamente será ordenado corretamente pela força nos julgamentos do Senhor, o Dia da Graça não é o momento para isso. O Senhor ensinou que, enquanto Ele fosse rejeitado por este mundo, seus seguidores não deveriam “lutar” em questões de justiça na sociedade (Jo 18:36; Ap 13:10; Mt 26:52). É uma causa perdida porque a Escritura ensina que o mundo continuará piorando, moral e espiritualmente, até que o Senhor intervenha em julgamento (2 Tm 3:13). Portanto, devemos aguardar Ele ordenar o mundo por meio do julgamento que fará na Sua Aparição (At 17:31; 2 Ts 1:7-9; Ap 11:15). Naquele tempo, Ele trará “paz ao povo” de todo este mundo (Sl 72:3).

PASTOR


PASTOR – EEsse é um dos dons que Cristo, a Cabeça da Igreja, deu à Igreja quando subiu ao céu. “Pastor” (Ef 4:11), refere-se a homens que foram dotados de capacidades espirituais para guiar e aconselhar os santos em questões práticas e, portanto, podem cuidar do estado espiritual do rebanho. Uma das capacidades especiais que um pastor tem é “a palavra da sabedoria” (1 Co 12:8). Essa é a capacidade dada por Deus para expressar a sabedoria divina em palavras pelas quais os santos são ajudados na sua caminhada com o Senhor. É por isso que essas capacidades são chamadas de “palavra” da sabedoria.
É triste dizer que os homens inventaram uma posição na Igreja (um clérigo) que não existe na Palavra de Deus e que sequestraram o termo “pastor” e o conectaram a essa posição criada pelo homem. Essa posição é ocupada por um homem ou uma mulher, formalmente treinado em um seminário e ordenado por homens com a finalidade de pregar e ensinar numa congregação Cristã. Essa posição não bíblica tem sido aceita pelas massas na profissão Cristã há séculos. Há tanto tempo existe e está tão difundida que é aceita de forma incontestada como sendo o ideal de Deus. Ela pode ser vista desde a basílica de São Pedro, em Roma, até a menor capela evangélica num campo.
Os irmãos nos anos 1800, que foram envolvidos na recuperação de muitas verdades para a Igreja, que tinham sido perdidas há séculos, procuraram na Escritura para ver se a posição de um clérigo era bíblica e descobriram que não era. W. T. P. Wolston disse de forma sucinta: “Há uma noção na Cristandade de que um pastor é um homem colocado sobre uma congregação. A ideia está na mente das pessoas, mas não na Escritura!” (The Church: What Is It? pág. 173). Esses homens (nos anos 1800) viram na Escritura que Cristo prometeu estar “no meio” daqueles a quem o Espírito de Deus reuniu para o Seu nome (Mt 18:20). E, com Alguém tão grande e tão competente como Ele, presente entre os santos reunidos, não é necessário nomear um homem para liderar e guiar a congregação – independentemente de quão dotado essa pessoa possa ser. C.H. Mackintosh disse: Se Jesus está em nosso meio, por que deveríamos pensar em estabelecer um homem como dirigente? Por que não permitir, unanimemente e de todo o coração, que Ele ocupe a cadeira do Líder e nos inclinemos a Ele em todas as coisas? Por que estabelecer uma autoridade humana, qualquer que seja sua forma, na casa de Deus?” (The Assembly of God, pág. 23).
Estabelecer um homem na assembleia para conduzir as reuniões e administrar a Ceia do Senhor é um grave erro eclesiástico. Não há sequer insinuação de tal coisa na Palavra de Deus, como um homem sendo separado para isso, mesmo que fosse um apóstolo. A Escritura simplesmente diz: “ajuntando-se os discípulos para partir o pão” (At 20:7). Independentemente do fato de que a Escritura ensina que os crentes devem se reunir para adoração e ministério, ao nome do Senhor somente, esperando a direção do Espírito para guiá-los, dificilmente se encontrará uma reunião de oração sem que alguém (um líder de oração) seja nomeado para conduzi-la. Isso nada mais é do que o homem usurpando o lugar de Cristo e do Espírito Santo na assembleia!
Todos os grupos Cristãos dirão que eles reconhecem a presença do Espírito em seu meio, mas a prova de que realmente cremos no poder e na presença do Espírito na Igreja será demonstrada ao permitirmos que o Senhor dirija as coisas nas reuniões da Igreja pelo Espírito. O que a Escritura requer de nós é fé no poder do Espírito, ao deixá-Lo em Seu devido direito de empregar quem Ele quiser para falar nas reuniões. Se foi pelo poder do Espírito que Deus criou o mundo e tudo o que nele há (Jó 26:13, 33:4; Gn 1:2), certamente o Espírito é capaz de guiar alguns Cristãos que estão reunidos para adoração e ministério! Na verdade, a Escritura diz que esta é uma das razões por que o Espírito foi enviado para habitar na Igreja (1 Co 12:4-11). Assim, desde o momento em que o Espírito de Deus foi enviado ao mundo no Pentecostes, será inútil procurarmos no Novo Testamento qualquer tipo de posição na Igreja que, mesmo de longe, se assemelhasse à de um clérigo.
A Escritura não ensina que deve haver um homem na congregação que tenha o direito oficial ao ministério. De fato, ensina que a cada membro do corpo de Cristo foi dado um dom (1 Co 12:7; Ef 4:7; 1 Pe 4:10; Rm 12:6-8) e todos os que têm um dom para ministrar da Palavra de Deus devem ter liberdade para exercer o seu dom na assembleia, conforme o Espírito conduzir (1 Co 12:7-10). No entanto, a posição de um clérigo impede essa manifestação do Espírito nas congregações Cristãs (1 Co 12:1 – JND).
Todo o processo de treinamento e ordenação de um pastor/ministro também é uma invenção humana. Não há uma pessoa na Bíblia que tenha sido ordenada pelos homens para pregar a Palavra para a Igreja! W. Kelly disse: “Na verdade, com relação ao que o Novo Testamento fala – e ele fala de forma completa e precisa – nunca alguém foi ordenado pelo homem para pregar o evangelho” (Lectures on the Church of God, pág. 183). As pessoas geralmente respondem: “Mas os homens foram ordenados na Bíblia”. Sim, a Bíblia nos diz que Paulo e Barnabé ordenaram anciãos em cada cidade em uma de suas jornadas missionárias (At 14:23). Mas não há um único exemplo na Escritura onde Paulo, Barnabé, Tito etc., tenham ordenado um pastor, mestre ou evangelista com a finalidade de pregar e ensinar!
Alguém professar ter o poder de ordenar é igualmente algo sem propósito. Todo o valor da nomeação de uma pessoa para um ofício depende da validade do poder daquele que faz a nomeação. A Escritura não permite nenhum poder de nomeação, exceto o de um apóstolo, ou de um enviado que tenha recebido de um apóstolo uma comissão para esse propósito. Mas onde há, nos dias de hoje, alguém que possa comprovar adequadamente ter uma comissão apostólica para a atividade de nomeação? A Palavra de Deus nem sequer sugere a continuação desses poderes de ordenar. W. Kelly concluiu: “Minha afirmação é que, nesta questão da ordenação, a Cristandade perdeu a mente e a vontade de Deus, e é ignorante, mas não sem pecado, lutando por uma ordem própria, que é mera desordem diante de Deus” (Lectures on the Church of God, pág. 192). É claro que aqueles que professam poder ordenar hoje não têm qualquer autoridade de Deus para isso.
As organizações da igreja na Cristandade não apenas criaram uma posição que não existe na Palavra de Deus, mas também atribuíram vários títulos a essa posição que também não têm a sanção de Deus. É verdade que as palavras “ministro” e “pastor” são mencionadas na Bíblia, mas nunca são usadas como títulos. Um “pastor” é um homem dotado de capacidades espirituais para guiar, aconselhar e pastorear os santos em questões práticas da vida Cristã – não o título de clérigo. A Palavra de Deus ensina que pastores são apenas um dos muitos dons que Cristo deu (Ef 4:11). Por que estabelecer esse dom na igreja com um título oficial e atribuir a essa pessoa preeminência sobre os outros? A Escritura condena a entrega de títulos lisonjeiros aos homens (Jó 32:21-22). Uma denominação chama seu clérigo “Padre (Pai)”, mesmo tendo o Senhor dito para que não se fizesse isso (Mt 23:9). Outras organizações da igreja usam o título “Doutor”. (A palavra “doutor” vem do latim docere, o que significa ensinar, ou seja, um professor). Outras denominações usam o título, “Reverendo”. Isso é ultrajante; a Bíblia nos diz que “Reverendo” é um dos nomes do Senhor! (Sl 111:9 – KJV)

domingo, 10 de setembro de 2017

UNIGÊNITO

UNIGÊNITO – Esse é um termo afetivo que um filho único tem nas afeições de seu pai (Lc 8:42; Jo 1:14, 3:16, 18; 1 Jo 4:9) ou mãe (Lc 7:12). Gerado, no sentido em que a palavra é usada nesse termo, não se refere ao início congênito de sua pessoa – seu nascimento. Uma prova clara disso é que o Senhor era “o Filho unigênito” antes que Ele nascesse neste mundo (Jo 3:16). A ênfase no termo é no único, e não no gerado. Cristo é o único e o unigênito Filho do Pai. Numa tradução livre, poderíamos ler: “o afetuosamente amado”.
Portanto, quando o termo “Unigênito” é aplicado ao Senhor Jesus, está se referindo ao Seu sempre-existente relacionamento com Deus, o Pai, como Seu muito amado Filho. Isso indica o prazer do Pai n’Ele. João 1:14 fala da glória que os homens contemplaram no Senhor quando O viram vivendo no gozo do amor de Seu Pai. João disse, num parêntese, que é semelhante ao que uma criança unigênita tem com seu pai, tendo a total e indivisa atenção e afeto de seu pai. (É por isso que no texto “unigênito do pai” (JND) não é escrito em maiúscula, pois se refere ao relacionamento humano de um pai com seu filho e o Espírito de Deus está usando isso para ilustrar a afeição que o Pai tem para com o Filho)[1]. Assim, o Senhor foi o objeto da atenção e deleite indivisos de Seu Pai (Mt 3:17), pois sempre habitou “no seio do Pai” como “o Filho unigênito” (Jo 1:18; Pv 8:30) e “o Filho do Seu amor” (Cl 1:13).



[1] N. do T.: J. N. Darby traduz João 1:14 como “E o Verbo Se tornou carne, e habitou entre nós [e temos contemplado Sua glória, uma glória como de um unigênito com um pai], cheio de graça e verdade”)

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

VELHO HOMEM, O



VELHO HOMEM, O – Essa expressão é encontrada em Romanos 6:6, Efésios 4:22 e Colossenses 3:9. Como o “novo homem”, esse também é um termo abstrato que descreve o estado corrupto da raça caída de Adão – seu caráter moral depravado. O “velho homem” não é Adão em pessoa, mas é aquilo que caracteriza a raça caída de Adão. É a encarnação de cada uma das horríveis características que marcam a raça. Para ver corretamente o velho homem, precisamos olhar para a raça como um todo, pois é improvável que uma pessoa seja marcada por todas as horríveis características que descrevem esse estado corrupto. Por exemplo, uma pessoa na raça caída pode ser caracterizada por ser irritada e enganadora, mas ela pode não ser imoral. Outra pessoa pode ser conhecida por não perder o seu controle, nem por enganar, mas ser terrivelmente imoral. No entanto, tomando a raça como um todo, vemos então todas as terríveis características que compõem o velho homem.
Romanos 6:6 e 8:3 afirmam que Deus julgou o “velho homem” na cruz de Cristo. E Efésios 4:22 e Colossenses 3:9 nos dizem que é algo do qual o crente se “despojou” (JND) ao receber Cristo como seu Salvador. Como parte da posição Cristã, por nossa profissão, temos confessadamente nos despojado de tudo o que tem a ver com esse estado corrupto. Tal despojamento é mencionado no grego no tempo verbal aoristo[1] – isso é, algo acontecido uma vez para sempre. Portanto, como Cristãos, confessamos que não estamos mais associados ao “velho homem”. Infelizmente, versão King James (assim como as versões brasileiras) traduz Efésios 4:22-24 como uma exortação, tornando o despojamento do velho homem algo que devemos fazer em nossa vida como uma coisa diária. Mas na realidade, o despojamento do velho homem é algo que o crente faz de uma vez por todas quando ele toma sua posição com Cristo. A passagem deveria ser lida como: Tendo-se despojado, quanto ao trato passado, do velho homem ... (JND).
O “velho homem” é frequentemente usado como sinônimo da velha natureza (a carne) no crente. Esse é um equívoco generalizado entre os Cristãos. Eles dirão coisas como: “O velho homem em nós deseja coisas pecaminosas”. Ou “nosso velho homem quer fazer este ou aquele mal...”. No entanto, essas afirmações confundem o velho homem com a carne. A Escritura não usa o termo dessa maneira. O Sr. Darby observou: “O velho homem repetidamente está sendo usado incorretamente para a carne” (Food for the Flock, vol. 2, pág. 228). Uma diferença é que nunca é dito que o homem velho está em nós, enquanto a carne certamente está. F. G. Patterson disse: “Também não acho que a Escritura nos permita dizer que temos o velho homem em nós – enquanto ensina mais plenamente que temos a carne em nós” (A Chosen Vessel, pág. 51). Por isso, não é correto falar do velho homem como sendo algo que vive em nós com apetites, desejos e emoções, assim como é com a carne. H. C. B. G. disse: “Eu sei o que significa um Cristão que perde o temperamento e diz: ‘é o velho homem’. Ainda assim a expressão está errada. Se ele dissesse que era ‘a carne’, teria sido mais correto” (Food for the Flock, vol. 2, pág. 287). Se o velho homem fosse a carne, então Efésios 4:22-23 estaria nos dizendo que precisamos nos despir da carne! No entanto, não existe uma exortação na Escritura para nos despirmos da carne. É algo que não acontecerá até que morramos, ou quando o Senhor voltar.
Assim, o “velho homem” foi julgado na cruz e o crente se despiu dele ao receber Cristo como seu Salvador. Embora não haja exortação na Escritura para nos despirmos do velho homem, há uma exortação para “nos despirmos” das coisas que podem estar em nossa vida que caracterizam o velho homem (Cl 3:8-9). Também não há uma exortação na Escritura para os Cristãos “considerarem o velho homem morto”, como as pessoas costumam dizer. Essa ideia equivocada supõe que seja algo maligno vivendo em nós (isto é, a carne). A Escritura diz que devemos considerar-nos “como mortos para o pecado” (Rm 6:11). Outros falam do velho homem como estando morto. Este é um outro equívoco. Mais uma vez, sugere que era algo que uma vez viveu no crente, mas que morreu.
Sete coisas que o “velho homem” não é:
  • Não é Adão em pessoa.
  • Não é a carne no crente.
  • Não é nossa antiga posição diante de Deus.
  • Não é sinônimo do primeiro homem.
  • Não é algo que precisa ser morto ou que morreu.
  • Não é algo de que o crente se despoja diariamente.
  • Não é algo que enterramos no batismo.


  [1] N. do T.: A palavra grega aoristo significa sem limite. Numa tradução livre, significa indefinido ou indeterminado. Indica uma ação que ocorreu pontualmente em algum momento do passado, sem relacioná-la com o presente. A ação ocorre uma única vez, de uma vez por todas.

OFÍCIO



OFÍCIO – Este termo tem a ver com o governo da igreja – a administração da assembleia (1 Tm 3:1, 10, 13). É algo que é realizado exclusivamente na esfera local da assembleia. Não há na Escritura algo como um governo central nacional ou mundial colocado sobre as assembleias.
A Bíblia ensina que há dois desses ofícios administrativos no governo da igreja:
  • Bispo (At 14:23, 20:17-35; 1 Tm 3:1-7, 5:17-18; Tt 1:5-9; Hb 13:7, 17, 24; 1 Pe 5:1-4; Ap 1:20).
  • Diácono [ministro] (At 6:3; 1 Tm 3:8-13). 
Os bispos são aqueles que “tomam a iniciativa” na direção da assembleia local em seus assuntos administrativos e estão particularmente ocupados com o estado espiritual do rebanho (1 Ts 5:12-13; Hb 13:7, 17, 24; 1 Co 16:15-18; 1 Tm 5:17 – JND). A versão inglesa King James refere-se a esses homens como “os que têm o domínio sobre vós”, mas essa expressão pode levar a um mau entendimento e transmitir a ideia equivocada de que exista uma casta especial de homens que estão “sobre” o rebanho, ou seja, o clero. A tradução correta seria: “Aqueles que tomam a iniciativa entre vós”. Isso mostra que eles não devem ter “domínio” sobre o rebanho (1 Pe 5:3). Esse trabalho não se refere necessariamente à condução no ensino ou na pregação pública, mas aos assuntos administrativos da assembleia. Confundir estas duas coisas é entender mal a diferença entre dom e ofício, que são duas esferas distintas na casa de Deus. Alguns dos que tomam essa iniciativa podem não ensinar publicamente, mas são muito bons e úteis quando o podem fazer (1 Tm 5:17). Esses homens devem conhecer os princípios da Palavra de Deus e ser capazes de colocá-los para que a assembleia possa entender o curso de ação que Deus tomaria em algum assunto específico (Tt 1:9).
três palavras usadas nas epístolas para descrever esses guias na assembleia local:
  • Em primeiro lugar, “anciãos” (Presbuteroi). Isso se refere aos avançados em idade e implica maturidade e experiência em assuntos espirituais (At 14:23, 15:6, 20:17; Fp 1:1; 1 Tm 5:17-19; 1 Pe 5:1-4). No entanto, nem todos os homens idosos na assembleia necessariamente assumem o papel de guias (1 Tm 5:1; Tt 2:1-2).
  • Em segundo lugar, “bispos” (Episkopoi). Isso se refere ao trabalho que eles fazem – pastoreando o rebanho (At 20:28; 1 Pe 5:2), vigiando as almas (At 20:31; Hb 13:17), e admoestando (1 Ts 5:12).
  • Em terceiro lugar, eles são chamados de “pastores [guias] (Hegoumenos). Isso se refere à sua capacidade espiritual de liderar e guiar os santos (Hb 13:7, 17, 24). 
Não são três posições diferentes na assembleia, mas sim três aspectos de um trabalho que esses homens fazem. Isso pode ser visto da maneira pela qual o Espírito de Deus usa esses termos de forma intercambiável (Compare At 20:17 com 20:28 e Tt 1:5 com 1:7). No livro de Apocalipse, aqueles que estão neste papel são chamados de “estrelas” e também como “o anjo da igreja que está em... (alguma localidade)(Ap 1-3). Como “estrelas”, eles devem testemunhar da verdade de Deus (os princípios de Sua Palavra) como portadores da luz na assembleia local, fornecendo luz sobre vários assuntos que a assembleia pode se confrontar. Isso é ilustrado em Atos 15. Depois de ouvir o problema que estava preocupando a assembleia, Pedro e Tiago forneceram luz espiritual sobre o assunto. Tiago aplicou um princípio da Palavra de Deus e deu seu julgamento quanto ao que ele acreditava que o Senhor queria que eles fizessem (vs. 15-21). Como “o anjo da igreja”, eles agem como mensageiros para trazer a mente de Deus na assembleia na realização da ação. Isso também está ilustrado nos versículos 23-29.
Hoje não há qualquer nomeação oficial de anciãos/bispos/guias para este trabalho, como havia na Igreja primitiva (At 14:23; Tt 1:5), porque não há apóstolos (ou pessoas delegadas pelos apóstolos) na Terra para ordená-los. Isso não significa que o trabalho de supervisão não possa continuar hoje. O Espírito de Deus ainda está levantando homens para fazer este trabalho (At 20:28). Esses homens não se nomeiam para esse papel, nem são nomeados pela assembleia, como é frequentemente o caso na Igreja hoje. Eles certamente seriam aqueles que um apóstolo ordenaria se estivesse aqui hoje. A assembleia os identificará pelo cuidado dedicado aos santos, pelo seu conhecimento dos princípios bíblicos e pelo seu sadio julgamento – e deve reconhecê-los como tais, mesmo que não tenham sido nomeados oficialmente.
No discurso de despedida de Paulo para os anciãos de Éfeso, ele deu uma descrição do caráter e do trabalho de um ancião/bispo/guia, usando a si mesmo como exemplo (At 20:17-35). Ele cuidadosamente delineou o que eles devem ser:
  • Consistentes (v. 18)
  • Humildes (v. 19).
  • Compassivos (v. 19).
  • Perseverantes (v. 19).
  • Fieis (v. 20).
  • Comprometidos (vs. 21-24).
  • Enérgicos (vs. 24-27). 
E também descreveu o que eles devem fazer:
  • Pastorear o rebanho (v. 28).
  • Vigiar contra dois perigos sempre presentes: de lobos que entram e homens atraindo discípulos após si (vs. 29-31).
  • Usar os recursos que Deus deu para essa obra: a oração e a Palavra de Deus (v. 32).
  • Estar envolvidos no ministério de dar de uma forma prática (vs. 33-35). 
O segundo ofício administrativo na assembleia local é o de um “diácono”. Isso diz respeito ao trabalho de cuidado dos assuntos temporais da assembleia – coisas materiais, assuntos financeiros etc. (At 6:3; 1 Tm 3:8-13). A palavra “diácono” significa “servo” e pode ser traduzida como “ministro”. Como exemplo, quando Barnabé e Paulo saíram na sua primeira jornada missionária, “tinham também a João como cooperador [ministro – KJV](At 13:5). A palavra “ministro” nesse caso pode ser traduzida como “servo” ou “cooperador”, e refere-se ao mesmo tipo de trabalho. Por isso, João Marcos ajudou Barnabé e Paulo em coisas temporais no campo missionário. No caso do diácono em 1 Timóteo 3, no entanto, está em conexão com coisas temporais que pertencem à assembleia local.
Atos 6:1-5 ilustra isso. Uma necessidade prática de administrar coisas temporais surgiu na assembleia em Jerusalém. Os apóstolos naquela assembleia disseram: “Não é razoável que nós deixemos a Palavra de Deus e sirvamos às mesas”. A palavra “servir” aqui tem a mesma raiz da palavra “diácono”. Certos homens, portanto, foram nomeados para cuidar do “ministério diário” (ou distribuição de fundos) e “servir às mesas”, para que os apóstolos estivem livres para continuar seu trabalho de ministério da Palavra.
É triste dizer que a Igreja hoje tirou do termo “ministro” o seu significado e uso bíblico e o conectou à posição criada pelo homem de um clérigo com títulos oficiais de “ministro” e “pastor”. O lugar e o trabalho de um ministro foram convertidos em uma posição proeminente de pregação e ensino na Igreja – muitas vezes com uma equipe de pessoas que ajudam o pregador. Na Escritura, é exatamente o contrário; um ministro é um servo daqueles que pregam e ensinam! (At 13:5; Rm 16:1)
Uma diferença notável nas qualificações de um bispo e um diácono é que não há menção de que o diácono seja “apto para ensinar”. Diz que ele deve manter “o mistério da fé”, o que indica que ele deve conhecer a verdade – como todos os santos devem – mas não há nenhuma menção a ele ser apto a ensinar ou a pregar. Outra diferença notável entre esses dois ofícios é que, enquanto os bispos não devem ser escolhidos pela assembleia para o seu trabalho, a assembleia escolhe seus diáconos. Mais uma vez, isso é visto em Atos 6. Os apóstolos instruíram a assembleia em Jerusalém a escolher os homens que eles achavam que eram mais adequados para esse trabalho. Há sabedoria nisso: quem melhor conhece o caráter dessas pessoas do que aqueles que andam em comunhão com eles diariamente? Deve-se também notar que, mesmo após a assembleia ter escolhido esses homens, ela não os ordenou, porque a assembleia (naquele tempo ou agora) não tem poder de ordenação. A assembleia trouxe aqueles a quem escolhera aos apóstolos que os nomearam oficialmente para aquele trabalho. Um exemplo desse ofício pode ser visto no “irmão” que tinha boa reputação por sua confiabilidade sendo “escolhido das igrejas” para ajudar nas questões da coleta e trazê-la aos santos pobres em Jerusalém (2 Co 8:18-19).
Se esse trabalho temporal é realizado de forma fiel, o diácono/ministro ganhará oportunidades em outras áreas de serviço – particularmente no testemunho verbal do evangelho (1 Tm 3:13). A vida bem ordenada e o trabalho fiel de um diácono/ministro na casa de Deus torna-se um testemunho para todos os que estão em sua volta de que ele é um em quem se pode confiar. Isso está ilustrado na vida de Estevão e Filipe em Atos 7-8. Esses homens eram diáconos na assembleia em Jerusalém (At 6:5), e tendo desempenhado seus ofícios fielmente, se tornaram ousados na fé e testemunharam do Senhor diante do Sinédrio (At 7) e na cidade de Samaria (At 8). Estevão tinha um dom de ensino, e Filipe era um evangelista dotado (At 21:8). Mas isso não significa que todos os diáconos tenham dons públicos.

NOVO HOMEM, O

NOVO HOMEM, O – Esse termo é encontrado em Efésios 4:24 e Colossenses 3:10. Como o “velho homem”, o “novo homem” também é uma expressão abstrata que indica a nova ordem de perfeição moral na raça da nova criação sob Cristo. O velho homem é caracterizado por ser “corrupto” e “enganador”, mas o novo homem é caracterizado pela “justiça” e “santidade” (Ef 4:22-24).
O termo “o novo homem” é frequentemente usado pelos Cristãos como se fosse sinônimo da nova natureza no crente. Esse é um equívoco generalizado entre os Cristãos. As pessoas dirão: O novo homem em nós precisa se alimentar de Cristo. Ou, Nosso novo homem precisa de um Objeto – Cristo. Essas declarações confundem o novo homem com a nova vida e natureza no crente, que definitivamente tem desejos e apetites, e precisa de um Objeto. Como mencionado, o novo homem é um termo abstrato – não é algo vivo no crente – indicando a nova ordem moral de perfeição na raça da nova criação. Este ponto foi abordado em um periódico anos atrás: “Novo homem é o que somos pelo novo nascimento? Não. Este é um termo abstrato colocado aqui em contraste tanto com judeus como com gentios. É uma ordem humana completamente nova obtendo seu caráter do próprio Cristo” (Precious Things, vol. 4, pág. 302).
O “novo homem” apareceu pela primeira vez “em Jesus” (Ef 4:21). Ou seja, os homens viram essa perfeição moral pela primeira vez quando o Senhor andou aqui neste mundo como um Homem. (“Jesus” é o Seu nome como Homem.) Toda característica moral do novo homem foi vista em perfeição n’Ele. Como o velho homem não é Adão pessoalmente, assim também o novo homem não é Cristo pessoalmente. G. Davison disse: “O novo homem não é Cristo pessoalmente, mas é Cristo caracteristicamente” (Precious Things, vol. 3, pág. 260).
A ênfase da exortação de Paulo nos últimos versículos de Efésios 4 é de que devemos colocar em prática o que é verdade de fato. Como somos Cristãos, nos despojamos do “velho homem” e nos revestimos do “homem novo” – é uma coisa que já foi feita (Ef 4:24; Cl 3:10 – JND). Portanto, somos exortados a deixarmos aquele velho estilo de vida corrupto que marca o velho homem e viver segundo o que caracteriza o novo homem. Paulo menciona uma série de transições morais que naturalmente devem resultar na vida do crente enquanto ele caminha em “verdadeira justiça e santidade”. Elas são:
  • Honestidade em vez de falsidade (v. 25).
  • Inabalável ira justa contra o mal em vez de indiferença (vs. 26-27).
  • Dar aos outros em vez de roubá-los (v. 28).
  • Falar com graça aos outros em vez de usar linguagem torpe (v. 29).
  • Bondade em vez de amargura (vs. 31-32).
  • Ternura (compaixão) em vez de cólera (vs. 31-32).
  • Mostrar a graça aos outros em vez de amargura, gritaria, blasfêmia e malícia (vs. 31-32). 
Em Colossenses 3, Paulo menciona dez características morais do “novo homem” que deveriam ser vistas nos santos, pois exibem a verdade de “Cristo em vós, a esperança da glória” (Cl 1:27):
  • Compaixão (v. 12).
  • Bondade (v. 12).
  • Humildade (v. 12).
  • Mansidão (v. 12).
  • Longanimidade (v. 12)
  • Paciência (v. 13).
  • Perdão (v. 13).
  • Amor (v. 14).
  • Paz (v. 15).
  • Gratidão (v. 15). 
Como o novo homem é moldado segundo “a imagem daqu’Ele que o criou”, nós, sendo parte da raça da nova criação que se revestiu do novo (Ef 4:24; Cl 3:10), somos perfeitamente capazes de representar Deus neste mundo. As características morais do novo homem serão vistas em nós, enquanto andarmos “em Espírito” (Gl 5:22-25).